outubro 30, 2012

Rectificações cervicais, dorsais e lombares

Continuando a decompor alguns conceitos que surgem frequentemente em diagnósticos e relatórios de exames hoje deixo aqui um breve post sobre as rectificações. 
Quando a curvatura de determinado segmento da coluna desapareceu, tornando essa parte da coluna direita, fala-se em rectificação dessa curvatura. Podem ocorrer rectificações apenas entre 2 vértebras ou de um conjunto maior. Muitas vezes são subvalorizadas porque é de senso comum que o ideal é ter a coluna "direitinha". Ora esta ideia não poderia estar mais errada. 
Pela minha experiência, e na opinião de muitos professores que por mim passaram, as rectificações são mais sintomáticas e difíceis de tratar que as hiperlordoses/hipercifoses. Estas rectificações criam tensões na dura-máter, uma das meninges que reveste o nosso cérebro e medula espinal. Costumo comparar a um carro/bicicleta sem amortecedores.
Na coluna cervical é muito frequente encontrar rectificações em pessoas que sofreram graves acidentes de automóvel, quedas de cabeça (por exemplo em piscinas), cirurgias anteriores (ex. tiróide), amigdalites e faringites frequentes. 
O tratamento das rectificações não vai ter como objectivo alterar de uma forma macro a estrutura mas sim diminuir as tensões geradas, relaxar a musculatura que fixa as rectificações, alongar as fáscias encurtadas, e se existirem problemas articulares restaurar a mobilidade. Por vezes estas rectificações podem estar, a nível dorsal, relacionadas com problemas viscerais.
O objectivo último será sempre retirar a palavra "dor" dos seus dias.

outubro 23, 2012

Seguros de Saúde e outros sistemas de saúde

Este post é sobre um assunto que surge frequentemente nos mails que me escrevem.
Nos locais onde faço tratamentos não tenho acordos com seguro de saúde algum. O que acontece é que a maioria das seguradoras e subsistemas de saúde comparticipam parte do valor da fisioterapia à posteriori, enviando todos os documentos pedidos. O montante da comparticipação é variável e o plafon anual também.

Concretizando, seguros de saúde como a Medis e a Multicare comparticipam com 30 a 60% do valor do tratamento sendo necessário entregar todos os documentos requeridos (recibos, prescrição médica...). Atenção aos plafons anuais! Normalmente variam entre os 250 e os 500€.
A A.D.S.E. pede os recibos, uma discriminação que o fisioterapeuta realizará onde consta o número da sua cédula profissional e os tratamentos realizados, assim como os valores cobrados e uma prescrição médica com:
Tipo de tratamentos
- Número de tratamentos ou
-Tempo previsto para os tratamentos e frequência dos mesmos.

A comparticipação será efectuada a partir  dos valores que constam na tabela de Medicina Física e de Reabilitação da A.D.S.E., sendo que pela minha experiência nunca vai muito além de 15€ por sessão.
Os S.A.M.S. funcionam com tabelas semelhantes às da A.D.S.E..

Muito importante, se vai realizar fisioterapia num local que não tem acordos, ligue para o seu seguro e tome nota de todas as informações, assim não terá surpresas desagradáveis no final.

Normalmente esta informação só chega às pessoas depois da consulta médica e a prescrição terá de voltar a ser escrita, segundo as exigências. Se tiver fácil acesso ao médico o processo será simples, se não, o melhor é levar logo as informações para a consulta.

O sistema está montado para que seja muito mais simples realizar tratamentos em locais com acordos, mas cada qual tem direito a escolher onde e por quem quer ser tratado, e a ser "ajudado" pelo seu seguro, se a fisioterapia estiver contemplada no seu tipo de seguro.

Informe-se e com um pouco de persistência será recompensado.

outubro 19, 2012

As rainhas hérnias discais

As hérnias discais é um tema sobre o qual tanto se escreve que nunca tinha pensado em divagar sobre. Não vou escrever sobre o que todos já sabem, mas sobre o que talvez só alguns saibam.
Rainhas e senhoras da patologia da coluna, pelos estragos que provocam, por todos são temidas porque a tendência é por brainstorming chegar logo à palavra cirurgia.
É verdade, muitas delas podem ter mesmo indicação cirúrgica, mas muito não têm. Mais, muitas pessoas têm protusões ou hérnias discais e não sabem, até que um dia fazem uma TAC ou uma RNM e lá vem escrito no relatório. Há até hérnias que desaparecem! 
Hoje em dia, na maioria dos casos há muito a fazer antes de chegar ao bisturi, e mesmo as intervenções cirúrgicas são cada vez menos invasivas.
Cuidado com as laminectomias, um tipo de procedimento cada vez mais em desuso, em que uma parte da vértebra, uma das duas lâminas é removida para descomprimir. O que acontece é que o processo fibrótico que se gera depois pode fazer com a compressão e por consequência a dor se mantenham.
Tem uma hérnia discal? Evite cronificar a ideia de que vai ter dores para o resto da vida ou que já não pode fugir à sala de operações.

outubro 18, 2012

Cicatriz

Uma cicatriz é inevitavelmente um ponto fulcral em qualquer tratamento. Às vezes dizem-me "Isto já tem muito tempo!". Pois é, mas o tempo é inimigo dos terapeutas, porque o tempo, num problema não tratado gera cadeias de adaptação à restrição. Após qualquer cirurgia, "ferida" ou queimadura gera-se um processo cicatricial. Desenvolvem-se aderências que criam retracções importantes. A fáscia não tem a mobilidade que tinha e tem de ser trabalhada ou a cicatriz poderá ser a causa de problemas mais ou menos distantes desta.
Os mais sépticos não precisam de ler esta parte, porque a anterior é suficiente para convencer, mas a fáscia responde ainda à "mente". Imaginemos alguém que sofreu uma queimadura num acidente de carro em que alguém ficou gravemente ferido ou a cicatriz de uma cirurgia para remoção de um tumor. Nestes dois exemplos o trauma psicológico, associado ao físico, potencia a retracção da fáscia e enquanto os dois não forem resolvidos é complicado que a retracção desapareça.
Trate as suas cicatrizes e sare a suas "feridas" físicas.

outubro 17, 2012

We are the doctor of our body

Uma das grandes dificuldades com que me deparo na minha prática profissional é "convencer" as pessoas a não realizar mais do que um tratamento por semana. Nas formações que tenho realizado, nomeadamente a RPG e a Osteopatia, existe consenso geral de que o corpo não deve ser trabalhado diariamente, mas que deve ser dado tempo para que este integre as alterações que o tratamento provocou. Um dos lemas da Osteopatia é "find it, fix it and leave it alone". Se o corpo humana não tivesse a capacidade de se auto-curar a espécie humana já não existiria. Pensemos por uns instantes na quantidade de vírus e bactérias com que somos bombardeados diariamente.
Não falo obviamente de uma reeducação motora ou de um trabalho para aumentar a força muscular. Contudo, mesmo num treino de fortalecimento muscular, em população saudável, num ginásio, nenhuma teoria vai de encontro a que se realize um dado exercício de musculação dias seguidos. A própria curva de sobre compensação refere que após um esforço o corpo diminui o seu "estado de forma"numa primeira fase, entra em fadiga, e depois com descanso reforça-se, superando o "estado de forma" inicial, preparando-se para uma nova "agressão" - um novo treino.
Assim sendo temos de acreditar no nosso corpo, na sua capacidade de recuperação e no terapeuta, claro, e na sua capacidade de corrigir o que tem de ser corrigido.
Nelson Mandela dizia "I'm de captain of my should", eu digo, we are the doctor of our body.

Dia Internacional da Coluna

Foi com muito pena que tardiamente soube que ontem, dia 16 de Outubro, se comemorava o dia Internacional da Coluna!
Devido à importância que tem no nosso corpo e na nossa saúde/doença, não podia deixar, mesmo no dia seguinte, de assinalar dia. No próximo ano estarei mais atenta :-)

outubro 11, 2012

Devemos deixar de fazer as actividades que nos fazem sentir bem?

Esta é uma pergunta que me faço a mim mesma há muito tempo, será razoável pedir a uma pessoa, em especial a pessoas jovens, que deixem de fazer as actividades que gostam porque num determinado período da vida tiveram uma lesão /patologia?

Uma vez tratei uma menina que praticava ballet e dança contemporânea e que tinha uma escoliose. Foi aconselhada a deixar a dança por um dos profissionais pela qual passou. Será que a dança tem potencial para agravar a escoliose?
É importante reflectir bem sobre os conselhos que se dão aos doentes, porque algumas restrições podem mudar por completo as suas vidas, para pior..

O pai da Osteopatia Visceral, Jean-Pierre Barral coloca esta mesma questão e eu partilho convosco:
"I believe that all problems come about from the compensation of the body to chronic stresses. Treatment should be aimed at relieving those stresses and less concerned with the effects of recent trauma. For example, I live in an area surrounded by the Alps, yet I see more instances of acute low back pain resulting from bending to pick up small objects than from skiing dangerously. Is it really reasonable to keep a patient from doing a physical activity that helps them feel good?"

outubro 10, 2012

Cifose, Lordose e Escoliose

Aqui fica um post que pretende ser uma espécie de glossário, para desmistificar conceitos.
Algumas pessoas ficam muito aflitas porque o relatório do seu exame diz que têm uma cifose/lordose. Ainda bem as têm e estes termos não são patológicos. 

A nossa coluna vertebral divide-se em 5 regiões: 
- coluna cervical (pescoço), constituida por 7 vértebral. Por vezes vêm descritas como C1, C2...C7. O C significa cervical e o número corresponde ao número da vértebra em questão;
- coluna dorsal ou torácica, corresponde às 12 vertebras abaixo, com ligação às costelas (abreviadas para D1, D2...D12 ou T1, T2...T12);
- coluna lombar, composta por 5 vértebras;
- o sacro, um osso único, de forma triangular, formado pela fusão de 5 vértebras;
- o cóccix, a parte final, constituido pela fusão de 3 a 4 vértebras.
Cada regiões apresenta características estruturais que as diferencia das restantes. No limite de cada região fala-se em charneiras (charneira cervico-dorsal, dorso-lombar, lombo-sacra, sacro-coccígea).

A coluna cervical e a lombar fisiologicamente apresentam uma curvatura que se denomina lordose, isto é, a sua concavidade está virada para trás, é posterior. A coluna dorsal apresenta uma curvatura que se denomina cifose, convexidade para trás. Se estas curvaturas são muito acentuadas e excedem os valores normais fala-se em hipercifose ou hiperlordose. A diminuição destas curvas é normalmente referida como uma rectificação. A osteopatia considera que as rectificações são mais sintomáticas que o aumento das curvaturas.

A Escoliose denomina uma alteração na coluna, num plano tridimensional. Simplificando, quando se observa uma pessoa com uma escoliose acentuada, de costas, a sua coluna não é recta, desenhando normalmente um S. Mais tarde voltarei ao tema das escoliose para não alongar demasiado este post.