março 17, 2010

As linhas da globalidade - RPG


Na semana passada estive numa formação avançada de RPG articular com o próprio mestre Philippe Shouchard o que me motivou a escrever. 
Uma fotografia vale mais do que mil palavras, sem dúvida. Esta imagem é de um pescador de Tavira que numa tranquila tarde de domingo tenta "desembaraçar" as suas cordas. A natureza, o Homem nas suas actividades traz-nos imagens excelentes para explicar a realidade. A intuição do senso comum em todas as suas limitações é um grande ponto de partido para a ciência.
Uma lesão ocorre no nosso organismo. O nosso corpo, munido de autonomia tenta a toda o custo fazer adaptações para impedir que todas as lesões cheguem ao consciente. Se cada um de nós tivesse percepção de todas as agressões diárias a vida seria impossível. Seria demasiada informação a processar e a gerir. Morreriamos de stress. O corpo protege as suas hegemonias (funções vitais) e só quando já não consegue mais esconder carrega no botão da dor e informa o sistema central de que o problema fugiu do seu controle. Exactamente como no funcionamento de uma empresa. Os funcionários vão resolvendo os pequenos problemas diários, reportando apenas à Direcção os problemas "major".
O que acontece é que nessa altura a lesão já se transformou numa emaranhada corda de pesca. Não basta tirar um nó, é necessário pesquisar, perceber o trajecto da corda na sua globalidade. Esse é o trabalho a que a RPG se propõe.
No Verão seguinte a ter terminado o curso estive a trabalhar numa clínica de Vila Real de Santo António e guardo com carinho algumas expressões: "parece que tenho aqui uma linha que vai por aqui e por aqui e por aqui"; "melhorei deste ombro mas agora a dor saltou para o outro".
Há muito tempo que o senso comum o sabe, quanto tempo demorará o sistema a reconhecê-lo?
Quando deixaremos de funcionar numa base reducionista de entrar numa clínica para tratar um pulso sem perceber que o aparececimento de uma dor no ombro desse lado tem relação e tem de ser tratado, investigado? Os valores que os seguros, as ARS, a ADSE pagam por tratamento de fisioterapia, a inexistência de entidades que regulem a qualidade dos serviços prestados pelas clínicas e todos os profissionais da reabilitação, o deficitário trabalho em equipa, o desconhecimento das chaves que cada um dispõe para resolver o problema do doente, entre outros, são graves ameaças a que se produza um trabalho de qualidade.

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