Estive a rever posts mais antigos e deparei-me com alguns comentários recentes. Agradeço os comentários de todos e prometo ficar mais atenta ao que vão escrevendo nos posts em arquivo.
Curioso, o post mais comentado, de longo, foi aquele em que falei sobre o caos na fisioterapia. Por um lado é positivo porque nos preocupamos com a profissão e isto nos destabiliza e nos faz falar, desabafar, gritar. Por outro lado, é sinal que a profissão está mesmo com problemas e que estamos a deixar que este pessimismo nos envolva, nos afunde.
Gostaria de pegar em toda esta energia e convidar todos os que por aqui passam a assinar uma petição dirigida à Assembleia da República a pedir para que o assunto de tornar a Associação Portuguesa de Fisioterapeutas numa Ordem seja debatido.
Depois de tanto falarmos agora existe algo concreto a fazer. Quem estiver interessado envie-me um e-mail que eu reencaminho a petição. Vamos acabar com os vazios legais, com as clínicas de encher chouriços, vamos provar que somos profissionais dedicados, que sabemos fazer diagnóstico em fisioterapia e que sabemos trabalhar em equipa, numa equipa em que todos participam e são ouvidos. O convite é para fisioterapeutas e público em geral, que também tem tudo a ganhar com um pouco de ordem e regulamentação nesta profissão linda, mas tão mal tratada.
Um bom fim-de-semana para todos!
maio 29, 2010
maio 21, 2010
Introdução ao tratamento visceral
Vira-se uma nova página na minha formação e começo agora a mergulhar no tratamento visceral. Para os mais cépticos uma pequena explicação, os nossos órgãos vivem, como os nossos músculos, ligamentos, ossos, fáscias, de sangue que lhes chega (vascularização), através do qual recebem alimentação e informação hormonal, recebem ordens do sistema nervoso (inervação) e possuem ainda uma extensa rede de vasos linfáticos que entre outras funções facilitam a chegada das nossas defensas (glóbulos brancos) onde estas são necessárias. Todo um metabolismo que permite que cada órgão realize a função para a qual foi concebido e se relacione com os demais. Facilmente se perceberá que uma obstrução na chegada de inervação ou vascularização, mais ou menos próxima, vai interferir com o funcionamento desse órgão. Ora vejamos um exemplo muito simples, o nosso sistema nervoso autónomo divide-se em sistema simpático, aquele que nos prepara para a acção, para a “luta” e um sistema parasimpático, reparador, que privilegia o acção visceral e nos permite relaxar. A inervação parasimpática do nosso estômago é da responsabilidade do X par craniano, o nervo vago. Para quem não percebe nada destas coisas o nervo Vago tem origem no crânio. Desde que sai até que chega ao estômago percorre um longo trajecto. Se houver pelo caminho um “acidente” esta informação não chegará ou chegará incompleta. E em que consiste este trabalho visceral? Consiste em avaliar e perceber o que se está a passar com cada visceral. Tão simples como complexo e eficaz.
É verdade, essa dor nos seus trapézios superiores (músculos que ligam o pescoço aos ombros) poderá estar relacionada com a sua dor de estômago e com as digestões difíceis. Sim, há algo mais que poderá fazer para diminuir as tensões que sente no seu abdómen.
E o mundo que era limitado torna-se cada vez mais amplo, e tudo se relaciona com tudo desde que o conhecimento e a razão estejam aliados a um busca entusiástica das relações e em última instância da melhoria da qualidade de vida dos que por nós passam.
Enquanto não houver sugestões da vossa parte, escreverei um pouco mais sobre este tema tão apaixonante.
abril 27, 2010
Questões, Dúvidas e Reflexões
Caros leitores,
Há algum tempo que decidi escrever este post. Há algum tempo que desejo que este blog seja mais nosso do que meu.
Ando a bater às portas, será que as tenho conseguido abrir?
Até que ponto são importantes as questões abordadas? Até que ponto respondem às vossas dúvidas e às minhas?
Assim, enquanto outras questões mais pertinentes não baterem à minha porta, gostaria de escrever posts sobre temas sugeridos por aqueles que me mantém a escrever: os números anónimos de pessoas que continuam a abrir esta porta, o blog AllFisio.
Conto com as vossas Questões, Dúvidas e Reflexões.
Há algum tempo que decidi escrever este post. Há algum tempo que desejo que este blog seja mais nosso do que meu.
Ando a bater às portas, será que as tenho conseguido abrir?
Até que ponto são importantes as questões abordadas? Até que ponto respondem às vossas dúvidas e às minhas?
Assim, enquanto outras questões mais pertinentes não baterem à minha porta, gostaria de escrever posts sobre temas sugeridos por aqueles que me mantém a escrever: os números anónimos de pessoas que continuam a abrir esta porta, o blog AllFisio.
Conto com as vossas Questões, Dúvidas e Reflexões.
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abril 11, 2010
Trabalhar na área da saúde: um privilégio
Caros leitores, hoje escrevo para todos os técnicos de saúde, fisioterapeutas, enfermeiros, farmacêuticos, médicos, psicólogos,...
Quando paro e penso no meu trabalho considero-me uma privilegiada. Quem trabalha em saúde tem o privilégio de assistir à caminhada do ser humano em momentos marcantes da sua existência. No dia a dia somos como cebolas andantes, cheias de capas e máscaras. No entanto, quando estamos doentes, baixamos todas as armas, todas as defesas e somos nós, para o bem e para o mal. Quem trabalha na saúde "bebe" o ser humano em todo o seu esplendor, em toda a sua verdade. É a vida a saltitar.
Procuremos ser humildades e sedentos de aprender, com os nossos pacientes e a nossa vida terá certamente muito mais cor.
Um agradecimento muito grande a todos os meus pacientes que comigo vão partilhando e me ensinam a viver.
março 31, 2010
Intervir: porquê e para quê?
Podendo já o ter abordado em algum momento e correndo o risco de me repetir, hoje dedico este pequeno post a um tema de grande importância e que mais do que informar tem como objectivo motivar uma reflexão séria.
Gosto muito, e considero importante realizar tratamentos pre-operatórios, isto é, sessões com um objectivo de melhoria da condição de uma articulação para depois ser submetida a uma intervenção cirúrgica. É importante e facilita o pós-operatório. No caso de uma ligamentoplastia, o facto de um joelho ir mais forte, mais estável, com melhor mobilidade facilita a reabilitação após a intervenção. É igualmente um momento de preparação psicológica e de ganho de confiança. Permite ao doente perceber o que se vai passar a seguir e dominar os exercícios que numa primeira fase terá de realizar. Contudo, deixa-me um pouco frustrada quando inicio determinados tratamentos convencionais, com o objectivo de evitar uma cirurgia e o doente já vem mentalizado para a intervenção. Quer ser operado e não investe num processo que o poderia retirar do bloco operatório.
Primeira grande questão, se o objectivo é impedir a cirurgia é necessário que se esteja de corpo e alma, porque isso influência grandemente o sucesso dos tratamentos. Segundo, numa era em que a alteração do estilo de vida é uma proposta inevitável assim como o acolhimento proactivo das recomendação e exercícios a realizar em casa, não estar a 100% significa que não se está disposto a entrar na corrida contra o problema.
Perguntam vocês nesta fase o que tem tudo isto a ver com o título do post. Na minha humilde opinião, muitas das cirurgias realizadas em ortopedia poderiam ser evitadas com um bom tratamento e o investimento pessoal do doente de que falo atrás. Uma cirurgia não é, ao contrário do que muitas pessoas pensam, a certeza que tudo vai ficar bem. Uma intervenção cirúrgica não é um procedimento inócuo. Tem muitas implicações na saúde em geral porque vamos intervir num corpo que tem uma capacidade incrível de auto-regeneração. Quando entramos modificamos o meio e alteramos as leis do jogo. Assim sendo, a cirurgia deve ser em muitos casos, a última opção.
É necessário pesar bem os prós e os contras e descartar as soluções mais inócuas. No caso da coluna, porque operar uma escoliose de um adolescente se este não tem dores nem esta comprometido o funcionamento de orgão algum? Fixar vértebras e vértebras para quê? A seguir a fisioterapia pouco poderá fazer para aliviar as dores que vão aparecer por anularmos algumas articulações intervertebrais deixando outras a trabalhar demais para compensar. Porque operar todas as hérnias discais? Algumas delas estiveram presentes tanto tempo sem sabermos. Um dia tivemos uma crise, fizemos um exame e pronto, temos de acabar com ela. Se após os tratamentos, ficarmos sem dor, com a sensibilidade e acção motora normal porque operar? Quantas vezes alguns anos após a remoção de uma hérnia esta volta a aparecer noutro sítio?
Permitam-me uma crítica social, uma crítica a uma sociedade na qual me incluo e pelo qual também tenho o direito de criticar. Queremos tudo rápido, tudo simples, tudo fácil. A reabilitação exige o nosso tempo, o nosso dinheiro, o nosso esforço. Como eu costumo dizer aos que por mim vão passando, é uma maratona, não uma corrida de velocidade. Será que vale a pena?
Quantas catástrofes o Homem já provocou por tentar alterar a natureza? O nosso corpo faz parte da natureza. É necessário resistir à tentação de provocar alterações que não saberemos controlar.
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março 17, 2010
As linhas da globalidade - RPG
Na semana passada estive numa formação avançada de RPG articular com o próprio mestre Philippe Shouchard o que me motivou a escrever.
Uma fotografia vale mais do que mil palavras, sem dúvida. Esta imagem é de um pescador de Tavira que numa tranquila tarde de domingo tenta "desembaraçar" as suas cordas. A natureza, o Homem nas suas actividades traz-nos imagens excelentes para explicar a realidade. A intuição do senso comum em todas as suas limitações é um grande ponto de partido para a ciência.
Uma lesão ocorre no nosso organismo. O nosso corpo, munido de autonomia tenta a toda o custo fazer adaptações para impedir que todas as lesões cheguem ao consciente. Se cada um de nós tivesse percepção de todas as agressões diárias a vida seria impossível. Seria demasiada informação a processar e a gerir. Morreriamos de stress. O corpo protege as suas hegemonias (funções vitais) e só quando já não consegue mais esconder carrega no botão da dor e informa o sistema central de que o problema fugiu do seu controle. Exactamente como no funcionamento de uma empresa. Os funcionários vão resolvendo os pequenos problemas diários, reportando apenas à Direcção os problemas "major".
O que acontece é que nessa altura a lesão já se transformou numa emaranhada corda de pesca. Não basta tirar um nó, é necessário pesquisar, perceber o trajecto da corda na sua globalidade. Esse é o trabalho a que a RPG se propõe.
No Verão seguinte a ter terminado o curso estive a trabalhar numa clínica de Vila Real de Santo António e guardo com carinho algumas expressões: "parece que tenho aqui uma linha que vai por aqui e por aqui e por aqui"; "melhorei deste ombro mas agora a dor saltou para o outro".
Há muito tempo que o senso comum o sabe, quanto tempo demorará o sistema a reconhecê-lo?
Quando deixaremos de funcionar numa base reducionista de entrar numa clínica para tratar um pulso sem perceber que o aparececimento de uma dor no ombro desse lado tem relação e tem de ser tratado, investigado? Os valores que os seguros, as ARS, a ADSE pagam por tratamento de fisioterapia, a inexistência de entidades que regulem a qualidade dos serviços prestados pelas clínicas e todos os profissionais da reabilitação, o deficitário trabalho em equipa, o desconhecimento das chaves que cada um dispõe para resolver o problema do doente, entre outros, são graves ameaças a que se produza um trabalho de qualidade.
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fevereiro 26, 2010
O Stress
Como dizia um professor do meu curso de Osteopatia, o stress é o conceito mais falado do momento mas o menos compreendido. Falamos de stress mas não compreendemos o que ele despolta no nosso organismo e até que ponto poderá provocar alterações estruturais no que somos. Sente cansaço, irritabilidade, palpitações, têm lesões frequentes, o seu coração tem uma frequência acelerada quando termina as refeições, dores de estomâgo frequentes...
No fundo o stress corresponde à tensão a que o nosso organismo é submetido para encontrar um novo equilíbrio quando é agredido. E de que tipo de agressões falamos? Cada um identifica muito bem as suas situações. Há situações que transtornam todos como um chefe intragável, um filho perturbado, o desemprego, uma situação de tragédia como a que se passou na Madeira ou no Haiti. Existem ainda choques climatéricos como a emigração para um país com um clima subtancialmente diferente que constitui uma agressão muito violenta para o nosso sistema neurovegetativo (sistema autónomo, "inconsciente"). Depois temos traumas físicos como uma fractura, uma anestesia geral ou mesmo um parto.
O stress faz parte do nosso meio. Vivemos entre situações de stress e situações de ausência de stress. É normal. No fundo esse é o veículo da evolução do ser humano e da vida, essa é a metolologia do treino desportivo e é também a balança em que cada um individualmente se encontra.
A questão é: vivemos esse equilibrio? Ou já o sacrificámos há muito para atingir objectivos de sucesso profissional e pessoal que não estavam ao nosso alcance. Diariamente convivo com pessoas cujo stress se vai somatizando nos seus músculos, nas suas fáscias, nos seus tecidos. As dores surgem e depois fechamos a cortina do inconsciente e tentamos perceber como apareceram...
Aqui fica o convite a que façamos pequenas pausas para perceber se somos nós que dominamos o stress ou é ele que nos domina a nós.
E como diz um dos meus sábios caseiros, se não podemos controlar conscientemente o stress gerado pela nossa personalidade, podemos ir controlando outros factores para equilibriar as agressões. Coma bem, faça exercício, procure ter momentos em que simplesmente faz coisas que lhe dão gozo.
fevereiro 08, 2010
Os nossos "avós"
A minha vida profissional, embora pautada pela instabilidade, tem sido um arco-íris de experiências que me enchem e me têm ajudado a crescer como pessoa e como fisioterapeuta. Nesta fase inicio um novo projecto relacionado com a psicogeriatria, as demências, centrado num trabalho em equipa e numa aposta revolucionária de abordar aqueles que são as nossas referências, as nossas memórias vivas, os "avós".
Assinalando este projecto, deixo a letra de uma música da Mafalda Veiga, para abanar as mentes. Desafio comentários sobre este tema, relatos de vivências que vos tenham marcado.
Parado e atento à raiva do silêncio
de um relógio partido e gasto pelo tempo
estava um velho sentado no banco de um jardim
a recordar fragmentos do passado
na telefonia tocava uma velha canção
e um jovem cantor falava da solidão
que sabes tu do canto de estar só assim
só e abandonado como o velho do jardim?
o olhar triste e cansado procurando alguém
e a gente passa ao seu lado a olhá-lo com desdém
sabes eu acho que todos fogem de ti pra não ver
a imagem da solidão que irão viver
quando forem como tu
um velho sentado num jardim
passam os dias e sentes que és um perdedor
já não consegues saber o que tem ou não valor
o teu caminho parece estar mesmo a chegar ao fim
pra dares lugar a outro no teu banco do jardim
o olhar triste e cansado procurando alguém
e a gente passa ao teu lado a olhar-te com desdém
sabes eu acho que todos fogem de ti pra não ver
a imagem da solidão que irão viver
quando forem como tu
um resto de tudo o que existiu
quando forem como tu
um velho sentado num jardim
passam os dias e sentes que és um perdedor
já não consegues saber o que tem ou não valor
o teu caminho parece estar mesmo a chegar ao fim
pra dares lugar a outro no teu banco do jardim
o olhar triste e cansado procurando alguém
e a gente passa ao teu lado a olhar-te com desdém
sabes eu acho que todos fogem de ti pra não ver
a imagem da solidão que irão viver
quando forem como tu
um resto de tudo o que existiu
quando forem como tu
um velho sentado num jardim
Perceba melhor os seus músculos (parte II)
Começo por pedir desculpa aos meus queridos leitores por ter passado tanto tempo desde o último post. Tenho andado em mudanças profissionais, mas de forma alguma pretendo deixar de dar continuidade a este blog. Podem continuar a contar com as minhas sugestões e divagações. Eu continuo a contar com os vossos comentários.
Vamos então para a segunda parte do tema músculos. Como escrevia no primeiro post existem as fibras tipo I, tónicas, lentas, resistentes e conhecidas do público sob o nome de Vermelhas e as fibras tipo II, fásicas, rápidas, pouco resistentes e com o nome artístico de Brancas.
Durante muitos anos a Fisioterapia tem-se preocupado com o fortalecimento concêntrico (em encurtamento) dos músculos. Se esta preocupação é benéfica no que concerne os músculos fundamentalmente dinâmicos, o mesmo não acontece com os músculos mais estáticos. Ao trabalhar o encurtamento de músculos que por defeito já têm essa tendência, estamos a contribuir para diminuir a sua eficácia, aumentar o risco de lesão e de patologia articular por aumento do achatamento das articulações. Procurando trocar isto por miúdos para o senso comum. Se uma articulação sofre de uma artrose, existindo por isso uma destruição parcial das supercificies que se articulam e uma dificuldade em produzir movimento, se os músculos estáticos ainda diminuirem o espaço articular, a dor será inevitável. Imagine uma dobradiça sem óleo. Muitas vezes levantamos a porta, para abrir espaço na dobradiça e conseguir abrir/fechar a porta. Nada mais do que um alongamento da musculatura estática que está a causar problemas.
A Reeducação Postural Global (RPG) é um conceito revolucionário, não só pela sua perspectiva global, mas porque reflete sobre a importância da função estática e procura abordá-la na sua especificidade.
Conclusão? Não se tratam colunas com fortalecimento concêntrico da sua musculatura estática, mas com alongamentos, posturas de alogamento, tracção, libertação da camisa de forças em que a nossa função estática se pode tornar.
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